Quando Constantin Stanislavski (1863-1938) discute, em seus textos, técnicas de construção do personagem voltadas para o ator, ele não o faz desprezando os diversos mecanismos de representação da subjetividade utilizados pelos romancistas modernos. Stanislavski incentivava seus atores a construírem suas performances a partir de aspectos recorrentemente presentes nas descrições romanescas: as tensões interiores dos personagens, seus desejos ocultos, as qualidades das ações físicas vividas por eles, um profundo detalhamento das tensões intersubjetivas, a reconstrução de eventos de seu passado etc. Podemos falar, então, de uma reorientação dos protocolos de atuação a partir de inovações processadas nas técnicas de representação literária. Certamente, esta apropriação de mecanismos narrativos do romance para a prática da atuação, no caso do Teatro de Arte de Moscou e dos textos de Stanislavski, efetiva-se com mais evidência quando observamos algumas obras específicas. Aquelas produzidas por Tolstoi e Dostoievski parecem ter gerado modelos mais claramente operacionalizados, seja em função da detalhada reconstrução de ambientes e ações dos romances de Tolstoi ou da complexidade subterrânea dos personagens de Dostoievski. De fato, os dois romancistas são recorrentemente citados nas cartas trocadas pelos artistas do Teatro e Dostoievski tem alguns de seus textos adaptados para o palco do TAM. Dessa forma, esta pesquisa busca entender uma forma de circulação cultural específica, onde categorias como representação, personagem, crença, originalidade, subjetividade, organicidade, natureza, ganham sentidos móveis. Será importante perceber como se processa essa circulação, assim como os formatos específicos que dispositivos encontrados nos romances ganham ao serem tensionados com um trabalho tão particular, como é o do ator.

Situação: Concluído; Natureza: Pesquisa.

Integrantes: Henrique Buarque de Gusmão - Coordenador.